MEC mantém autorização para cursos EAD de TO e fisioterapia: o que pacientes e profissionais perdem com isso?

A decisão recente do Ministério da Educação (MEC) de manter a autorização para que cursos de graduação em Terapia Ocupacional e Fisioterapia funcionem no modelo de ensino à distância (EAD), enquanto veta o mesmo para outras áreas da saúde, não é apenas uma incoerência normativa. É um alerta. Enxergo essa movimentação como um sinal preocupante de que o olhar técnico sobre a formação em saúde está sendo substituído por critérios que ignoram a essência do cuidado humano.

Como terapeuta ocupacional há mais de três décadas, posso afirmar: não se aprende a cuidar de um corpo humano por meio de telas. Não se desenvolve empatia por um algoritmo. Não se forma um profissional para atuar com pessoas que sofreram um AVC, que vivem com paralisias cerebrais, que enfrentam desafios do espectro autista ou que precisam reaprender a assinar o próprio nome, sem vivência prática, sem o contato direto com as singularidades de cada ser humano.

Durante a formação, há períodos de estudo de movimentos envolvidos no simples ato de assinar um papel, por exemplo. Um gesto cotidiano, que exige coordenação motora fina, percepção tátil, integração sensorial e emocional. Esse nível de profundidade e sensibilidade não pode ser transmitido por videoaulas ou simulado por inteligência artificial.

E não vamos nos enganar! Não só os alunos de cursos de EAD de Terapia Ocupacional e Fisioterapia vão conviver com as limitações dos formatos de aula da modalidade, sem o contato presencial, como na realidade de hoje, sem acompanhamento próximo de professores, há um risco ainda maior que eles substituam o aprendizado pelo uso irrestrito de ferramentas de IA. Sem uma moderação, a tecnologia em vez de apoiar os estudos, pode ser utilizada apenas para cumprir tarefas. Em vez de se envolver com a pesquisa, desenvolver o conhecimento e ter contato direto com pessoas ou discussões, podem apenas entregar trabalhos e ganhar notas.

E aqui mora o grande perigo! Quando a formação se afasta da realidade humana, a consequência é o distanciamento do cuidado.

Ciência que demanda humanidade

A Terapia Ocupacional é uma ciência que demanda presença. Em muitos casos, o profissional é a ponte entre a limitação e a autonomia. Somos nós que ajudamos uma criança com autismo a se comunicar com o mundo, um idoso com sequelas de ELA a manter a dignidade de segurar um copo com as próprias mãos, uma mulher com lesões neuromotoras a voltar a vestir-se sozinha. Cada um desses processos exige escuta ativa, observação clínica e contato real.

Permitir que a formação desses profissionais ocorra majoritariamente à distância significa fragilizar o sistema de saúde como um todo. É preparar profissionais com lacunas práticas profundas, que podem comprometer a qualidade do atendimento. Esse retrocesso afeta não apenas os futuros terapeutas e fisioterapeutas, mas todos os brasileiros que um dia poderão precisar de reabilitação, acolhimento e orientação em momentos delicados da vida.

Entendo a importância da tecnologia na educação. Recursos digitais e ferramentas de IA podem complementar a formação, facilitar o acesso ao conhecimento e ampliar o alcance de conteúdos teóricos. No entanto, substituir completamente o contato humano por interações digitais é negar a complexidade da prática clínica e da construção do vínculo terapêutico, um elemento central para a eficácia das intervenções em saúde.

Formar terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas à distância não é só um erro técnico. É uma escolha política que desvaloriza a experiência prática, o toque humano e a ética do cuidado. Precisamos urgentemente de coerência e responsabilidade na condução das políticas educacionais. A saúde pública não pode pagar o preço de decisões desconectadas da realidade dos pacientes e da prática profissional.

O futuro da nossa profissão, e da qualidade da atenção em saúde, exige uma formação presencial, ética, empática e profundamente humana.

Syomara Cristina Szmidziuk – atua há 34 anos como terapeuta ocupacional e tem experiência no tratamento em reabilitação dos membros superiores em pacientes com lesões neuromotoras. Faz atendimentos com terapia infantil e juvenil,  adultos e terceira idade. Desenvolve trabalhos com os métodos Bobath, Baby Course Reabilitação Neurocognitiva Perfetti, Reabilitação de Membro Superior-Terapia da Mão, Terapia Contenção Induzida (TCI) e Imagética Motora entre outros.

Rafaela Tavares
(41) 98455-3810
[email protected]
By King post

A King post é uma empresa especializada em serviços de gerenciamento de conteúdo, publieditorial e marketing digital. Com uma equipe altamente qualificada e experiente, a King post tem se destacado no mercado pela qualidade dos seus serviços e pela satisfação dos seus clientes.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Relacionados